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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Cantinhos

Eu me perco só.
No meu cantinho, coloco meu coração a me desvendar.
É num cantinho dele também que te encontro.
E te reservo no cais dos meus braços.
Lembrando dos teus pés grandes e descalços onde os meus também pisaram, encostaram e suaram.
E vejo teus dedos entre os meus mesmo sem estar lá.
É só no meu cantinho, em baixo da lua, que nos encontro, nos perco, nos vivo, nos revivo e nos sou.
Vivo aqui pelo simples fato de não estar aí.
Porque eu me duplico, multiplico e me deixo nos ser.
Aqui.
Só.
No meu cantinho e tu no teu. Porque nós somos assim e porque a vida tem disso.
E ponho-me a pensar em nós. E imagino-nos.

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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A Vila das Placas II

Concerto de eletrodomésticos.

Era assim que estava na placa pendurada no portão da casa do Seu Dirceu, um velhinho barrigudo, avô de três crianças e que usa o óculos na ponta do nariz porque diz que assim enxerga melhor.
Há quem fotografe a placa julgando estar errada, mas errado mesmo era quem não sabia o que acontecia dentro da casa.
Seu Dirceu mora com a esposa, cozinheira de mão cheia que sonhava em abrir seu próprio restaurante mas acabou vendendo quentinhas dentro de casa mesmo.
Quem mora perto da casa do casal conhece o porquê da placa e sabe que não está errada.
Quando Rosinha se mudou, tinha 11 anos e não entendia o porquê da placa, já que já sabia a diferença entre conserto e concerto.
Enquanto voltava da escola, de segunda a sexta, Rosinha olhava a placa e via Seu Dirceu receber os eletrodomésticos das pessoas que por lá passavam.
Na maioria das vezes, eram pessoas de bicicletas levando ventiladores, micro ondas e até liquidificadores.
Rosinha tinha uma irmã mais velha, Clara. Geralmente, era ela quem cuidava de Rosa, já que os pais trabalhavam o dia inteiro e às vezes a moça que fazia a faxina não podia trabalhar (ela tinha uma filha pequena, que adoecia com frequência e precisava do carinho da mãe, já que não podia contar com o pai, longa história...).
Em um dos dias de doença da filha pequena da moça que fazia faxina, Clara pediu pra Rosinha ir buscar quentinha pro almoço com a esposa de Seu Dirceu.
Como era um pouco mais tarde do horário de pico de almoço (dá pra entender o que quero dizer?), a esposa de Seu Dirceu teve que esquentar um pouco mais de arroz, então Seu Dirceu convidou Rosinha para entrar e esperar a quentinha lá na sala dele.
Rosinha entrou e logo percebeu, era a espectadora de um concerto de eletrodomésticos de verdade.


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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A nossa vida e a de Ana

A vida é alguém muito próxima a todos, cabe às próprias pessoas aproveitarem ou não a oportunidade de viver. É certo que com ela, lado a lado, como é inevitável, algumas consequências são impostas aos seres, entre elas, o sexo e a morte. Ana é jovem e ainda não entende muito bem a vida, talvez nunca entenderá (sim, há esta possibilidade). 

Na última semana, Ana foi interrogada pelo amor, um personagem também imposto pela vida e que possui diversas vertentes que tende, por sua essência, trazer felicidade, porém, como todos envolvidos na vida, às vezes erra. 

Ana não sabia muito bem o que falar às 4h da tarde daquele dia. Sobre a fuga da vida, ela apenas disse que não sabia muito bem correr, afirmou ter preferido a morte ao invés de se entregar à vida. Beijos e abraços foram cúmplices daquele fim de tarde, ninguém mais, ninguém menos. Segundo ela, era a primeira vez que suspirava a esperança e transpirava a liberdade. E olha que nem estava tão livre assim. Não fez por mal, fez por querer e, de acordo com a própria vida, querer não  é maldade é, apenas, querer. 

Só ela e ele sabiam das palavras trocadas que, por sinal, poderiam ser usadas contra eles mesmo a qualquer momento. Não, ela não acreditou. Ou achava não ter acreditado.

Quando lhe foi perguntado o porquê da omissão, ela respondeu "omitimos porque não queríamos que a vida soubesse de nós". Assim como todos, Ana não escapou da vida, nem do sexo, nem da morte e nem do amor. Ana, assim como eu, é também você.  
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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Entre cabelos e olhos em sonhos

Entre mugidos, gemidos e multidões te encontrei.
Nossas mãos entrelaçaram e corremos por um corredor infinito de vidas.
E a vida nos acompanhava, acampada esperando a hora de sair e nos impedir mesmo de viver.
Éramos simples, éramos únicos, éramos felizes.
Saudávamos quem nos buscava amparar, carregávamos uns aos outros como quem carrega o amanhã.
E a vida, de verdade, era essa.
De ponta a ponta, de sopro em sopro, livre, leve e solta, como o amor desimpedido e reconhecido.
Nossos cabelos se trançavam nos unindo, nos gemidos, nas peles, no olho do amor.
Não buscávamos, não queríamos, não seríamos, éramos.
Éramos nós, o amor, e a vida desvivida, desbravada, superada.
Com medo, orgulhos e preconceitos distintos e inofensivos respirávamos a nossa fala.
Gritávamos segredos desvendando a pele.
Transpirávamos desespero de querer mais desviver.
Mergulhávamos em rios, lagos e igarapés querendo sê-los.
E éramos.
Desvividos, despidos de restrições, assim como não sou e és.


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terça-feira, 15 de julho de 2014

Sem ele

É triste quando dói.
Quando as lágrimas escorrem, parecem quentes, e a dor não é física.

O corpo pede abrigo, e o amor destrói.
Engraçado quanto dói.

Parece que as mãos ficam vazias e perdemos levemente nossos movimentos.
Ele não acaba assim.
Ele, o amor.
Mas dói.
Dói porque é a única ferida que temos e que parece ser impossível de curar.
Às vezes amputar o amor seria uma boa ideia.
Engraçado estar eu sofrendo de amor.
Engraçado sim.
Porque a única certeza que eu tenho, fora a morte, é ele.
E dói.
Nunca imaginei que a certeza doesse tanto.
E agarro ele como nunca agarrei nada e nem ninguém na vida.
Porque ele a é (além da morte).
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''Confia em mim.''
Na primeira vez que ele falou essa frase ela não ouviu, e ao repetir ela ficou na dúvida se deveria ou não confiar em alguém que tinha acabado de conhecer.
Sentiu os lábios daquele homem encostarem em seus seios com uma delicadeza que transmitia uma imensa confiança.
A partir dai nada mais importava.
E ali só se encontravam os dois, enquanto seus lábios se tocavam, nem eles mais existiam.

Era a primeira vez que ela se entregava para alguém.
Seu corpo nu sempre fora censurado por ninguém mais, ninguém menos, que ela mesma.
A magreza era um vício lacrado em sua cabeça.
Os ossos praticamente aparentes lhe impediam de viver.

Já tinha idade para o prazer próprio, mas se limitava. A excitação, pensava ela, nada tem a ver com o coração.
Nunca haviam lhe dito que seu prazer não era permitido. Mas era como se na hora suas mãos estivessem amarradas e presas na sua própria liberdade.

Depois do primeiro beijo, um dos mais longos que havia dado, entregou-se a alguém que nem sabia a idade. Não haviam muitas pessoas no local, e os poucos que haviam não lembrariam de nada no dia seguinte, então ela não via problema em se dar prazer. Ao menos uma vez.

E entregou seus lábios e seios naquele dia. E, depois disso, só se entregara novamente alguns anos depois, quando, finalmente, entregou também sua liberdade para outro alguém.

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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Em dias como esse eu sinto uma dor enorme.
No corpo, na alma, no coração.
Sinto um desespero de dar dó de mim mesma.
Além da vontade de alongar um pouco mais a vida e saber que tu irias comigo, de mãos dadas, aonde fosse.
Queria mesmo era pular nos braços e nunca mais largar.
Mas a vida é séria, não é?
Um pulo em falso e morreríamos de amores.
E queria mergulhar nessa coragem como quem mergulha no mar.
Chorar camada por camada de mim.
Eu tenho culpa de não ser feliz?
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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Despetalando-me

Despetalar-me-ei em teus lençóis nus.
Despetalar-me-ei em teus abraços secos e sem dor.
Despetalar-me-ei com seus cabelos escorridos feito lágrimas que suspiram uma única vez.
Faço-me inteiramente de pétalas para ser tua. Como se olhos não fosse possíveis de serem fechados.
Escorre em mim o amor de distribuídas noites.
Despetalo-me enquanto cantas meu nome pelos olhos.
Revelo-me o meu coração e teu suor.
Abraço-me para segurar tudo de mim que eu posso em ti, porque meus lábios nunca sorriram em uníssono a não ser com os teus.
E as minhas mãos tremem discretamente só de pensar em encostar nas tuas.
E meus seios são despetalados pelos teus dedos cheios de lágrimas de amor.
E novamente despetalar-me-ei em teus lençóis nus.
Onde nem o céu é possível enxergar. Nem a alma eu posso segurar.
Até que sejamos juntos, vários amores, dores e cores.
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domingo, 2 de março de 2014

Ah Maria, sua vida é curta, curtinha.
Tão curta que mal cabe em uma foto 3x4.
E mesmo você querendo viver cada minuto como se fosse o último, o mundo espera mais.
E nem adiantar ler todos esses livros que tem guardado, e nem escrever um diário secreto, muito menos tentar deixar sua marca no mundo.
Ele é mais, ele é muito.
Ah Maria, sua vida é curta, curtinha.
Lembra do dia que falou "vai!"? Eu não fui.
Eu fiquei.
Fiquei porque é aqui que você gostaria que eu estivesse.
Você não foi, eu também não.
Ah Maria, pega na minha mão, vê como eu seguro a vida com ela.
Seguro, porque Maria, nossa vida é curta, curtinha.
E o coração dispara sempre que te vejo, que nem o de um passarinho.
E corramos Maria, corramos porque quero te ver feliz.
Corramos porque não tá fácil, Maria.
Veja Maria, o nosso amor é puro, puro como a vida curta, curtinha.
Que nem música, que nem aplausos, que nem uma foto 3x4.
Ah Maria, sua vida é curta, curtinha.
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Pablo

Hoje conhecemos Pablo.
Pablo veio do Paraná para o Pará fazer não sei o quê.
Magro e com uma aparência de quem não tem casa, mulher e nem comida. Porque de fato não tem mesmo.
Paramos pra conversar em baixo de chuva e por alguns poucos minutos.
Em 2007, o contador e o sócio de Pablo aplicaram um golpe e roubaram todo o dinheiro. Ele revendia jeans pra todo o Brasil e ganhava bastante dinheiro.
Depois de ter sido roubado, Pablo perdeu a mulher e o pai virou as costas. Estranho né?
Não sei se isso realmente aconteceu com Pablo. Mas ele me fez acreditar.
Não sei onde Pablo irá dormir hoje, nem amanhã, e nem se ele conseguirá o emprego que mencionou em um empresa responsável por distribuir energia no estado.
Mas o que importa mesmo é que, mesmo depois de afirmar que catava lixo pra sobreviver, apertamos a mão de Pablo sem pensar duas vezes. E Pablo, na despedida, sorriu e desejou que ficássemos juntos pra sempre. E se foi.
Já estou com saudade Pablo, boa sorte!
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domingo, 19 de janeiro de 2014

Oi marido,
entregou, entregou sim.
Ele tinha descarregado, agora tá carregado.
Sim mano, me dá-lhe logo pelo telefone.
Tô fazendo a unha da moça.
Amanhã acho que vou fazer a domicílio na Dona Cléia.
É ela e mais três.
As três filhas.
Não, as duas filhas e a irmã dela.
Não sei, não sei se ela vão querer desenhos.
Tá, depois me liga ou te ligo.
É nesse aqui ou da Pedro Álvares Cabral?
A tá.
Tá, depois te ligo.

Disque tava me esculhambando porque o celular tava dando caixa postal. Agora eu vi.
Esse cara me abandonou, quando eu tava grávida do nosso filho.
Ele tinha mania de sumir.
Fui até na delegacia pra falar que ele havia sumido. Liguei pro IML e tudo.
Aí ele sumia, ia pra gandaia, arranjava um monte de mulher, e voltava.
Até que me separei dele.
Ele me ligava, mandava mensagem me ameaçando, me xingando.
Aí fui na delegacia da mulher prestar queixa dele, até que ele parou.
Arranjou uma mulher.
Eu também arranjei um monte de homem logo.
Arranjou essa mulher, engravidou ela e depois voltou.
Nunca mais me largou.

Estamos oito anos juntos.
A primeira vez que a gente se separou, que ele andava sumindo, ficamos seis meses separados.
Na segunda foi uma, duas semanas. É só assim.
Agora ele fica me controlando com medo que eu largue dele.
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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Essa loja vende lajotas que se completam, se a gente não comprar tudo de uma vez, a casa fica toda colorida.
Eu comprei piso branco lá pra casa, fiz besteira, era pra eu ter comprado creme, lá tem um monte de criança.
Mas lá em cima é branco, lá pra baixo vou comprar verde.
Minha irmã comprou amarelo pra casa dela.
Amarelo é ouro né? E verde é esperança.
Minha mãe falou: menina, que comprar verde o que, é feio.
Mas eu compro é mesmo, é minha casa.
E eu quero um verde bem forte, que brilhe, pras pessoas verem mesmo. Tô nem aí.
Ela fala também porque eu só uso preto. Mas já pensou se eu usasse creme? E se fosse aquelas flores? Pareceria com a Dona Redonda.
Mas se eu uso uma peça azul, a outra é preta. Se uso uma peça vermelha, a outra é preta.
Não torço pra nenhum time, nem palmeiras, nem nada. Mas quero minha casa verde e branco.
E meu pai falou que tenho que comprar todas as lajotas de uma só vez, se não vou colocar uma e quando atrás pra completar, não vai mais ter - ri. 
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