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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Do que eu lembro

São várias as lembranças que tenho de quando eu era mais leve.

Em uma das fotos de infância da minha irmã, havia um ursinho de pelúcia marrom.
Eu não lembro se cheguei a vê-lo um dia, ela é mais velha e naquela foto foram acrescentados alguns anos até o meu nascimento.
Mas quando eu penso na minha infância, por algum motivo, eu penso nesse urso.
É como se, de tanto eu olhar a foto, eu pudesse tocá-lo e até sentir o cheiro de guarda-roupa que ele tinha.

Eu nunca tive um urso de pelúcia que pudesse ter me apegado tanto. Sempre preferi as bonecas.

É engraçado quando eu paro pra pensar em mim brincando com brinquedos. Eu lembro de mim com minhas amigas, claro. Mas lembro de mim também, sozinha, na casa da minha avó, brincando com os carrinhos do meu primo enquanto ele tava na aula de futebol.

Lembro também de um dia com o meu pai, no ônibus, voltando pra casa, no fim de tarde. Chovia e eu estava sentada no banco e ele em pé ao meu lado. Minha mochila era grande e pesada, e mesmo eu sentada, era ele quem a carregava.

A descia do ônibus e ia à padaria comprar o pão careca dele e o meu bolo formigueiro.

Eu não fazia ideia dos problemas que realmente pesavam, mas pra mim, estar em casa tomando um café com leite comendo o bolo era a solução pra qualquer um deles.

Talvez, de uma certa forma, ainda seja.


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A espera

Eu lembro quando acreditava em mim.
Eu fechava meus olhos, o vento batia, balançava meus cabelos, eu sorria e seguia.
Não tinha medo ou ser que me impedisse de me viver.
Até que desisti.

Eu me descontrolei.
Caí da corda bamba.
Tropecei na perna de pau.
Ralei o joelho pra desviar da calçada.
Torci o dedão do pé pra chutar no gol.

As mãos ficaram inseguras e não tinham dedos que pudessem controlar.
Eu soluçava de tanto me perder.
Olhava pro alto e nada enxergava.

Não sei pra onde isso tudo se desviou e na maioria dos dias acho que está tarde pra reencaixar.

Às vezes eu espero tanto chegar lá que, de tanto esperar, eu perdi o endereço.


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louca

"Eu estou louca" - ela pensava.
Era ali, no meio da multidão, com o copo de água na mão, que ela pensava "eu estou louca".

Atravessou no meio de todo mundo, um empurra-empurra daqui e de lá, os pisões nos pés e as cerveja nos cabelos, e ela só conseguia pensar "eu estou louca".

Era a luz rosa, que ora era vermelha, ora amarela ou azul. Eram tipo raios que a atravessava mas ela não sentia. Não sabia mais onde estava e só conseguia pensar estar ficando louca.

A gente nunca se encontra por completo, ela só não sabia disso ainda. Na cabeça passava o pão que ela comeu pela manhã ao mesmo tempo em que pensava aonde ela deveria estar.

Às vezes a vida converge com o passado e a gente só quer ficar ali, quando só o que nos atingia era a rejeição dos meninos quando queríamos brincar de bola também.

As calças jeans já não são tão simples de vestir e nem tudo tem explicação, mas não é fácil ser como se é. Ainda.

"Eu estou louca" - ela pensava.

Ainda ali no meio da multidão, na mesma velocidade com que as luzes mudavam de cor, os pensamentos percorriam do início ao fim, não exatamente nesta ordem.

Até chegar ao outro lado, todos pareciam estar mais felizes do que ela. Era um estado estático, onde nada se mexia e nem saía do lugar ao mesmo tempo em que tudo estava em movimento.

Era claro o que estava acontecendo: ela estava ficando louca. Ou quase lá.

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