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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Novas Genis.

Amanheceu lá na calçada.
Joana que era João.
Filha de dona Maria, crente em Deus, e de seu José, cabra macho.
Irmão de Juliana, que vende chope, tem 17 anos e dois filhos.
Travestido de quem não é e Deus proíbe.
Aquele que comete o pecado da carne.

Amanheceu lá na calçada.
Maria que anda de saia nesse calor.
Filha de dona Maria, crente em Deus, e de seu José, cabra macho.
Irmã de Juliana, que vende chope, tem 17 anos e dois filhos, e de Joana que era João.
Vestida de saia curta e blusa decote, pedindo pra ser estuprada.
Aquela que não liga pra gente quando falamos pra andar mais vestida.

Amanheceu lá na calçada.
Manoel que é bêbado.
Filho de dona Luíza, que Deus a tenha, e de seu Bené, catador de lixo.
Irmão de dona Maria, crente em Deus, e cunhado de seu José, cabra macho.
Mora lá pras bandas de lá.
Nunca quis mulher pra lavar as roupas, anda sujo como velho de rua.
Aquele que quando passa, cambaleia prum lado e pro outro.

Amanheceu lá na calçada.
Robertinho, pivete do bairro.
Filho do que foi preso por assalto à mão armada.
Irmão mais novo daquela pequena que faz programa.
Dorme aqui ou aculá.
Vive me pedindo trocado, mas finjo que não conheço e vou pro outro lado da rua.
Aquele que vira e mexe tá com uma garrafa com cola cheirando.


 
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terça-feira, 21 de abril de 2015

Eu tava só.
Nem indo, nem vindo e nem parada.
Rodeada por conhecidos e desconhecidos, na beira do bar, embriagados.
Não fazia muita questão de ser, mas era.
Foi sem te chamar que chegaste.

Eu tava só.
Sentada, lendo curiosamente o último capítulo do meu livro que, depois de um tempo, passou a ser meu preferido.
Com o melhor copo de café que Dona Célia servia no bar.
Estava lá porque morava dobrando a esquina, no primeiro andar, em cima da padaria.

Eram 2h da manhã e eu lia a frase "acender o fogo" quando chegaste pedindo uma cadeira.
Depois não havia fogo nenhum para acender.

Só conseguia te observar com o canto do meu olho, estavas me observando enquanto eu tentava saber o que acontecia depois de um fogo aceso.

Precisava sair dali, mas o café ainda tava quente.

Traguei-o e fui.

No outro dia, enquanto te via chegar, fechei o livro e procurei alguma maneira de te fotografar com os olhos sem que me enxergasse. Mas me viste logo de cara.

Depois de pedires a cadeira da minha mesa enquanto haviam várias outras mesas sem ninguém, pressupus que podia te olhar. E olhei.


Depois disso, por um tempo, sempre que a gente se tocava eu conseguia respirar.

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quarta-feira, 11 de março de 2015

Tá bom como tá. Tá?

Ouvi dizer que ele terminou.
Não sei o porquê, não sei quando, não sei onde. Mas aconteceu.
Foi até engraçado, há tempos não pensava nele, de repente me deu uma aflição, uma emoção, uma saudade. Pedi pra alguém próximo me informar sobre o que ele andava fazendo, onde estava comendo depois que o café da esquina fechou e o que ele tava calçando, já que a bota marrom que ele tanto usava ficou na minha casa.

Não queria perguntar de primeira, assim, rápido. Queria buscar algum assunto antes de falar dele. Mas o único assunto em comum, fora ele, foi a falta do sorvete na sorveteria que nos encontrávamos.
E depois do silêncio após: "estranho não ter sorvete em uma sorveteria" fui obrigada a preencher o vácuo com: "e ele?".
E não precisava de mais nada pra saber a quem eu me referia (já que o assunto sorvete estava finalizado).

E descobri.
E pensei: "não estou morrendo, não estou" (apesar de estar).
E descobrir o fim bastou pra eu não pensar em mais nada a não ser em como estaríamos se tivéssemos continuado.

E, como bom ser apaixonado (não que eu estivesse), lembrei de tudo. Desde as cartas ao último beijo antes de virar de costas e vir embora.
Guardo em uma caixa algumas das nossas fotos, dos desenhos e dos livros que são nossa cara.
Não pude deixar de abrir e lembrar de tudo em cada coisinha dessas.

Fomos felizes juntos, disso não tenho dúvida.
Mas também sou feliz sozinha.

Só que sempre que faz frio eu lembro do edredom que nos cobria.

Pensei até em mandar uma mensagem, mas não sei se ele ainda tem o mesmo número.
Talvez eu mande um email. Mas talvez ele tenha mudado de email também.

Se bem que tá bom como tá.  
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