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domingo, 21 de fevereiro de 2016

Parindo-me

E eu agora tenho que estar aqui, despida de todo o meu coração, que há muito já não é meu.
Vencida por todos meus medos implantados por quem sorria por não saber da felicidade.
A vida há muito me escondeu.

Parto-me todos os dias com a força e coragem que veio do útero da minha mãe.
Seguro eu mesma minhas mãos porque não há mais de quem segurar.
Entrelaço meus pés naqueles sapatos porque foram os únicos que me restaram.

O caminho a seguir é longo e doloroso.
Entre farpas e segredos.
Entre o nojo e o abraço.
Entre mim e o desejo.

Já não está mais aqui quem me habitava.
Naquele eu, minha coragem se dilacerou tão devagar que dela não restou nenhum fiapo a mais.
Sou mulher com alma perdida.

Choro o sangue de meu pai, como naquele dia em que ele partiu.
Tremo minhas pernas propositalmente, como quem acorda em um dia e não quer mais viver.
Não é escuro o caminho, mas não me é possível seguir.

Há o renascimento de onde não há vida?
Há vida onde não há o renascimento?
Não quero renascer, quero existir.

Parto-me a partir daqui. A partir de mim, eu parto.
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